A coleção “Psicanálise e estéticas de subjetivação” nasce de uma época em que se discutem questões cruciais acerca das novas formas de subjetivação na atualidade; época originada nos desenvolvimentos exigidos pelo trabalho dos primeiros psicanalistas com pacientes psicóticos e borderline. Nesse sentido, uma época produtora de autores pós-freudianos que constituíram teorias sobre a origem da atividade de produção de sentido, de ligação, colocando a questão da constituição do Eu a partir da relação com o Outro, definitivamente na esteira dos textos freudianos da década de 20, em seu bojo.
O reconhecimento, contudo, de que nenhuma teoria vai além das próprias delimitações que traz consigo desde suas origens diz respeito à possibilidade de recomposição do tecido teórico como um conjunto, permitindo condições futuras.
Assim é que as questões relativas a intensidade e excesso pulsional são fundamentais. Não só se apresentam como características marcantes dos sofrimentos na atualidade, mas, tomado pela intensidade e pelo excesso, ao sujeito só lhe resta realizar um trabalho de ligação, que constitua destinos possíveis para as forças pulsionais, ao inscrever a pulsão no registro da simbolização. Frente à reativação do desprazer, produzido por grandes quantidades não metabolizáveis pelo psiquismo, será a capacidade de ligação do aparelho psíquico que definirá as possibilidades de domínio desta energia.
O fato é que, se, em face da premência e necessidade em produzir novos objetos para os circuitos pulsionais, o sujeito realiza rupturas no campo de objetos e símbolos – na visão de mundo constituída –, será exatamente isto que permitirá ao sujeito constituir sua própria realidade de acordo com as leis que eventualmente conheça. Nessa medida, compreender ou dar significado ao mundo em que vivemos será o mesmo que estruturar a realidade de um modo pessoal e estilizado.
Daí a relevância das experiências psicanalítica e artística: concebidas como “lugar psíquico de constituição de subjetividade” (Bartucci, 1999) – fundamentalmente para aqueles sujeitos cujos destinos como sujeitos será sempre o de um projeto inacabado, produzindo-se de maneira interminável –, ambas encontram na inscrição da pulsão no registro da simbolização e sua reordenação do circuito pulsional uma economia outra que possibilite o trabalho de criação, de produção de sentido e de ligação.
São Paulo, 2000 – Giovanna Bartucci, psicanalista
Imago Editora
Ano de publicação: 2000
264 páginas
ISBN 85-312-0732-0
Seria demais dizer que o cinema inventou a psicanálise. Mas antes de Freud deitar os seus pacientes no divã, já existia um sonho de materializar o nosso imaginário através da projeção de imagens, depois em movimento. Por uma feliz coincidência, cinema e psicanálise têm o mesmo ano de 1895 como data de nascimento.
O inconsciente coletivo materializou-se com o invento estarrecedor dos irmãos Lumière, numa antevisão das maravilhas que poderíamos esperar do século XX.
Também naquele ano Freud introduziu a sua “psicoanálise”, com o vasto campo aberto para as mentes fazerem livres associações de imagens, lembranças, ideias, desejos, libidos, frustrações e condutas criptografadas de outras enfermarias.
As vias da psicanálise que começavam a decifrar os códigos do inconsciente passaram a nos mostrar o caminho inverso através do cinema, excitando ainda mais o nosso imaginário. É o que esta coletânea de ensaios, organizada por Giovanna Bartucci, nos oferece: “uma interlocução profícua”, como ela mesma diz, e a sublimação da arte de um século em que pensar continua significando resistir.
Leon Cakoff, crítico de cinema
Diretor da Mostra Internacional de Cinema
A FALA DA IMAGEM
Psicanálise, Cinema e Estéticas de Subjetivação por Yudith Rosenbaum
Percurso. Revista de Psicanálise – Ano XIV – nº 27 – Págs. 173-175
Segundo semestre de 2001
Ano de publicação: 2001
412 páginas
ISBN 85-312-0772-X
“Se há, no que diz respeito à Psicanálise, literatura e estéticas de Subjetivação, um fio condutor que se faz presente na primeira parte deste volume, talvez seja a pergunta de se nós, psicanalistas, não deveríamos ‘nos debruçar sobre a literatura para compreender melhor nosso objeto, o sujeito moderno’ – uma vez que, de forma mais ampla, ‘a criação artística e suas interpretações sobre a alma humana permitiriam ver, num jogo de espelhos, a própria face da construção psicanalítica’. Sendo assim, se a imagem do bovarismo se inscreve como a ‘força do imaginário que impulsiona a escrita’ – a criação literária resultando do processo ambivalente de o escritor se valer de uma relação próxima e distante com a realidade –, indaga-se, também, se haveria alguma forma de pensar a ‘travessia da escrita’, analogamente ao que Lacan chamou de ‘travessia do fantasma’ em associação ao final de análise, como no caso do escritor que atravessa e é atravessado por sua obra e sua escrita, num processo de ‘desvestimento do imaginário’, quando a ‘referencialidade se faz escritura’.
Não é à toa que se hipotetiza se ‘todo ato de escritura verdadeira, ou seja, um escrito que produz um sujeito, implica uma certa condição de exílio daquele que enfrenta o desafio do escrever’. Seria, então, neste intervalo de ‘um ao outro’ que deduziríamos um sujeito.
A indagação relativa a ‘forma de ser do escrito psicanalítico’ apontaria, então, para uma retórica que ‘se caracterizaria pela singularidade de seus enunciados, singularidade pela qual a corporeidade do autor e as marcas indiscutíveis do inconsciente estariam presentes’.
Somam-se a estas reflexões ensaios inéditos de psicanalistas de diferentes orientações teórico-clínicas que tratam de refletir acerca da constituição de subjetividade – por meio de categorias fundamentais constitutivas do sujeito – a partir da escritura de autores como Binjamin Wilkomirski, Fernando Pessoa, Gérard de Nerval, Jorge Luis Borges, Mário de Andrade e Sylvia Plath.”
Giovanna Bartucci, psicanalista
TÃO LONGE, TÃO PERTO
Psicanálise, Literatura e Estéticas de Subjetivação por José Bento Ferreira
Reportagem – revista da oficina de informações – Ano IV – nº 44 – Págs. 47-48
Maio de 2003
ENTRE PSICANÁLISE E LITERATURA, O SUJEITO
Psicanálise, Literatura e Estéticas de Subjetivação por Tania Rivera
Percurso. Revista de Psicanálise – Ano XVIII – nº 35 – Págs. 172-175
Segundo semestre de 2005
JOGO DE ESPELHO ENTRE PSICANÁLISE E LITERATURA
Psicanálise, Literatura e Estéticas de Subjetivação por Sergio Nazar David
Caderno PROSA & VERSO – Jornal O Globo – Pág. 3
22 de dezembro de 2001
A LITERATURA NO DIVÃ DA PSICANÁLISE
Psicanálise, Literatura e Estéticas de Subjetivação por Cláudia Nina
Caderno IDEIAS – Jornal do Brasil – Pág. 7
23 de fevereiro de 2002
JOGO DE ESPELHOS
Psicanálise, Literatura e Estéticas de Subjetivação por André Medina Carone
Jornal de Resenhas – Folha de S.Paulo – Pág. 5
10 de novembro de 2001
Imago Editora
Ano de publicação: 2002
408 páginas
ISBN 85-312-0824-6
“Sem dúvida, será a concepção de sujeito do inconsciente como destino de pulsões o que irá possibilitar que pensemos o ato de criação como criação de um sujeito, como ‘lugar psíquico de constituição de subjetividade’.
O que, no entanto, vem a ser reafirmado em Psicanálise, arte e estéticas de subjetivação, tanto por artistas quanto por psicanalistas, parece ser a própria condição da arte como ‘prática de problematização’. Assim, se ‘a arte moderna deslocou-se da tradição da arte como representação, tradição que pretende submeter a matéria supostamente indiferenciada a uma hipotética ‘forma pura’, é no trabalho com a própria matéria que o artista moderno opera a decifração do mundo. A arte contemporânea, no entanto, parece esgarçar ainda mais tais contornos: o artista contemporâneo ‘toma a liberdade de explorar os materiais os mais variados que compõem o mundo, e de inventar o método apropriado para cada tipo de exploração’.
De fato, se ‘a obra deve arrastar tudo consigo – a intenção, a ideia, o esboço, o livro de anotações, a biografia do artista e sua própria montagem’ –, ‘há, no ato artístico, uma produção de um outro lugar de enunciação do sujeito que só pode ser deduzido daquilo que é produzido’.
Entretanto, no que diz respeito ao espectador/receptor, a obra contemporânea ‘não (o) convida a sonhar com base nela (…). O olho que estava acostumado ao conforto da contemplação surpreende-se na presença de uma arte cujo objetivo não é apenas mostrar o mundo, mas (…) induzir o receptor a penetrar mais no visível para reorganizar todo o seu espaço sensório-motor’. Assim é que a arte constitui-se como uma prática de decifração, de produção de sentido, de ‘criação de mundos’ e, consequentemente, de estruturação da realidade de modo pessoal e estilizado.
E, ainda, os ensaios que compõem a ‘parte dois’ dos três volumes pretendem ser uma reflexão acerca das distintas ‘formas de subjetivação’ nesta interface psicanálise e as artes, psicanálise e literatura, psicanálise e cinema. Pensados a partir de ‘categorias fundamentais’ constitutivas do sujeito – corpo e linguagem; pulsão e simbolização; trauma e fantasia; amor e desejo; culpa e liberdade; alteridade e cultura – dispostas como subtemas, os ensaios, inéditos, de psicanalistas de diferentes orientações teórico-clínicas tratam de refletir acerca da constituição de subjetividade a partir da arte contemporânea em sua relação com seu receptor/espectador, da dança contemporânea de Pina Bausch, da dramaturgia do Teatro da Vertigem, do cinema de Pedro Almodóvar, da música de Caetano Veloso e da prática estética de Lygia Clark.”
Giovanna Bartucci, psicanalista
O EMPÓRIO DOS SENTIDOS
Psicanálise, Arte e Estéticas de Subjetivação por Oscar Angel Cesarotto
Percurso. Revista de Psicanálise – Ano XVII – nº 33 – Págs. 173-174
Segundo semestre de 2004