Apresentação
De fato, a experiência psicanalítica corresponde a “um direito de asilo àqueles que nos chegam de uma terra estrangeira, de um continente distante, à todos aqueles que migram” (Pontalis, 1997).
É nessa medida que entendo que a análise é um lugar. Um lugar onde nos permitimos desmanchar em palavras, dores, odores, fatos e olfatos, gestos e, acima de tudo, uma permanente tentativa de despir-nos daquilo que nos encobre. Tal experiência pressupõe, necessariamente, um outro que escute, que silencie, que pontue, que interprete. Um outro que, para além de “suposto-saber”, seja ele mesmo esse lugar, encarne esse lugar, para que no momento que nele, lugar, adentremos, deixe ele mesmo de ser este corpo, para estar esse lugar.
O jogo de palavras não é artifício retórico, mas a tentativa de recolher, dar forma e instaurar um sentido para este tempo, que, para além (ou aquém) da linguagem, é ele mesmo um tempo necessário. Um tempo que permite a emergência de um sujeito a partir desse corte, dessa fenda, desse rombo, dessa cratera, dessa violência amorosa e necessária que nós humanos, por isso mesmo, mui educadamente denominamos falta (Bartucci, 1998).
Contudo, como descrever a experiência psicanalítica? Como “dizer” o que se passa “entre” analista e analisando? O que acontece nesse “lugar psíquico de constituição de subjetividade”?
E a transferência? O que é transferência? Tudo é transferência? Como entender a contratransferência enquanto uma posição contratransferencial, nos tempos que correm? Como pensar o complexo de édipo na contemporaneidade? São novas narrativas necessárias na psicanálise freudiana contemporânea?
Objetivo
Partindo das inquietações clínicas dos participantes – originadas, derivadas, de material clínico a ser apresentado a cada encontro –, o nosso objetivo será, então, o de refletir acerca da clínica psicanalítica em face às características das subjetividades na pós-modernidade, considerando que as variáveis que se referem às condições de constituição psíquica dos sujeitos e os elementos relativos à produção de subjetividade, atualmente, não conduzem necessariamente a uma sobreposição.
Metodologia
Tendo como objetivo estabelecer uma interlocução entre teoria e produtos da cultura, esse seminário ocorreu a partir de aulas expositivas seguidas de debates, e contará também com a leitura de textos literários, projeção parcial de filmes e de obras de arte.
Público: Profissionais interessados e estudantes de último ano de psicologia, literatura, artes, comunicação e áreas afins.
Quando: de fevereiro a junho de 2010