Seminário: A passagem do homem moderno ao sujeito pós-moderno

Psicanálise, cultura e estéticas de subjetivação

Apresentação

Em “O mal-estar na cultura” (1930), Freud deixa claro que não faz distinção entre os termos “cultura” e “civilização”, na medida em que é por meio da apropriação da Kultur (conjunto de produções humanas tanto sociais, quanto culturais) que o sujeito realiza a sua Bildung (formação pessoal).

 

Fruto do seu tempo, a estética freudiana anunciou um modo de implicar e articular tanto o que permanece vivo – ou, imortal – e continua a determinar a nossa humanidade, quanto um método de desvelar características sociais e singulares do sujeito que entendemos como antecipatórias da contemporaneidade.

 

No entanto, ao considerarmos a desconstrução dos mecanismos sociais que vinculam a nossa experiência pessoal à das gerações passadas um dos fenômenos mais característicos do final do século XX, o dilema de como organizar uma narrativa de vida deverá ser esclarecido sondando-se como, hoje, enfrentamos o futuro.

 

Assim, ao privilegiarmos o tema da cultura contemporânea, a partir da teoria psicanalítica, em sua relação com a experiência estética, o estudo de movimentos da cultura e fenômenos culturais nos permitirá identificar – entre o “sujeito em permanente constituição” e uma sociedade em movimento acelerado – “a presença de processos constitutivos do sujeito no bojo dos processos de cultura” (Bartucci, 2006).

 

Objetivo

O nosso objetivo será, então, o de assinalar ali mesmo, no lugar da “escritura” – seja nas artes plásticas, em uma obra literária ou cinematográfica – onde Freud antevê a contemporaneidade. Assim, ao refletirmos acerca da estética freudiana em sua relação com a contemporaneidade, esse seminário tem como objetivo promover a experimentação estética enquanto o instrumental, por excelência, por meio do qual se dá a organização do contemporâneo, ou seja, como um “lugar psíquico de constituição de subjetividade” (Bartucci, 1998) – para aqueles sujeitos cujos destinos como sujeitos será sempre o de um projeto inacabado, produzindo-se de maneira interminável.

 

Metodologia

Tendo como objetivo estabelecer uma interlocução entre teoria e produtos da cultura, esse seminário ocorreu a partir de aulas expositivas seguidas de debates, e contará também com a leitura de textos literários, projeção parcial de filmes e de obras de arte.

Público: Profissionais interessados e estudantes de último ano de psicologia, literatura, artes, comunicação e áreas afins.

 

 

Período: de fevereiro a junho de 2010

Conteúdo Programático

1. As relações de Freud com a literatura e a arte

 

2. Modernidade, pós-modernidade, contemporaneidade. O espaço e o tempo

Manet, Francis Bacon, Alexandre Órion

 

3. Mal-estar contemporâneo e subjetividades contemporâneas

Marguerite Duras e a “doença da morte”

 

4. Movimentos da cultura contemporânea e o homem freudiano pós-moderno

Os blogs, a nova geração de escritores brasileiros contemporâneos, o cinema documentário brasileiro contemporâneo

 

5. As relações de Freud com a literatura e a arte e o homem freudiano moderno

Sigmund Freud e Arthur Schnitzler

 

6. Modernidade, literatura e o nascimento da psicanálise

Baudelaire, Flaubert, Freud e Ana O.

 

7. Psicanálise e escritura: o “romance de formação” e o “docudrama”

Thomas Mann, E. L. Doctorow, Luchino Visconti

 

8. Psicanálise e escritura: memória, exílio e asilo

Marcel Proust, Joseph Conrad, Jorge Luis Borges

 

9. “1968”, “a morte do autor”, o retorno a Freud

A psicanálise freudiana contemporânea

 

10. Da Estética à “Estética de Subjetivação”:
sobre a “constituição de subjetividade” na contemporaneidade