A despeito de tudo, porque tanto ódio?

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Produzido em 2011 – inédito

Giovanna Bartucci

Lançados em 2011, Freud: mas por que tanto ódio? (Zahar) e Lacan, a despeito de tudo e de todos (Zahar), de autoria da historiadora e psicanalista Elisabeth Roudinesco, reacendem o debate em torno das paixões suscitadas pela psicanálise.

Expressão do “ódio sem fundamento senão a negação da realidade”, a publicação de O crepúsculo de um ídolo: a fabulação freudiana (Le Crépuscule d’une Idole. L’affabulation Freudienne, Grasset), de Michel Onfray, em 2010, na França, ensaio no qual o pai da psicanálise é retratado como impostor, incestuoso, homofóbico e admirador de Hitler e Mussolini, foi o que moveu a pesquisadora a restituir, em Freud…, a verdade histórica em relação à psicanálise e seu criador.

Considerando ainda a importância que ganhou na França o rumor de que o professor teria tido relações ilícitas com a cunhada, a historiadora também dedica um capítulo à gênese do episódio que  forjou  a  lenda,  de  forma  a  esvaziá-la.  Aos  seus  ensaios, somam-se ainda contribuições de Guillaume Mazeau, Christian Godin, Franck Lelièvre, Pirre Delion e Roland Gori acerca de O crepúsculo…, Onfray e suas relações com a “sociedade do espetáculo”.

De fato, se a história do ódio em relação a Freud é tão antiga quanto a da psicanálise, os boatos em relação a um Jacques Lacan perverso, predador, maoísta, estuprador, também não deixam de existir. Escrito como “o enunciado de uma parte secreta da vida e obra” do excepcional pensador que foi, Lacan, a despeito de tudo e de todos quer evocar fragmentos de um “outro mestre”, confrontado aqui com seus excessos.

Vale lembrar, contudo, que voltar a falar do psicanalista francês 30 anos após a sua morte é também resgatar a sua afirmação de que “o avanço freudiano (é) o único capaz de apreender todas as facetas da complexidade humana: o pior e o melhor”.